sexta-feira, julho 29, 2005

 

Há dias em que se acorda


Há dias em que se acorda. Não que não nos levantemos da cama todos os dias, mas há momentos em que reparamos que há todo um mundo a girar à nossa volta que, permitam-me o exagero, até é interessante.

Havia já meses em que não ia ao cinema, não consumia teatro, não pegava num livro em cuja capa não constasse a palavra management, não borrava as mãos com a tinta dum jornal não financeiro, não desfolhava uma revista que não falasse de economia. Até que na última sexta-feira acordei.

Era já inicio de tarde, e arrastava-me por um denso rol de tarefas, algumas importantes outras não, todas elas demasiado aborrecidas para um dia solarengo a espreitar o fim-de-semana. Até que alguém me escreveu a dizer que iria nessa noite esparramar-se ao ar livre em frente a uma tela de cinema. O esparramanço era noutro país que não aquele onde ainda estou, mas acordou-me para a constatação de que há já vários meses que não respirava sarjetas outras que não as que têm o logotipo da multinacional que me considera o seu maior activo.

Ao abrir o cartaz, o choque foi duro: nem de um único filme eu tinha ouvido falar. Eu tornado em reles sombra de quem há ainda pouco tempo tinha algo a dizer sobre todas as projecções nas salas de Lisboa. Depois de muito procurar, lá consegui encontrar um filme em versão original num cinema suíço. Começaria de imediato, e sai sem mesmo pedir a bênção do chefe, atrevimento que se veio a revelar demansiado grande na segunda de manhã.

Soube bem sair do cinema duas horas depois, mas fiquei absolutamente chocado apenas minutos depois quando um colega me disse na rua, que a marca mil vezes repetida no filme não era fictícia, e que pertencia mesmo ao gigante que afinal investe mais nas suas marcas do que nos seus mais importantes activos.

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