segunda-feira, novembro 01, 2004
Viajar entre mim próprio
A questão foi posta logo no início deste blogue, como um desafio às suas bases quando elas ainda se bamboleiam inseguras. Atingindo-me de rajada, um anónimo projectou "Viajas por entre mundos, mas será que viajas por ti próprio?".
A pergunta tem uma resposta que é fácil, mas de dura constatação. Não viajo por mim próprio: viajo segundo a contabilidade de quem já rico me dá por missão aumentar a sua fortuna. Sou um peão desconhecido num tabuleiro mundial, um soldado raso às ordens dum comandante escondido. Não tenho qualquer controlo nos meus destinos, não viajo segundo a minha vontade. Não viajo por mim próprio: sou levado e vejo apenas aquilo que me é permitido ver.
Decidi entregar o meu itinerário à decisão alheia pela simples razão de que se não o fizesse não teria bilhete de partida. Prostituo a escolha pela hipótese de fuga.
Não sou senhor do meu itinerário, nem sei se gostaria de ser. Tomo a posição passiva, aberto a que me larguem num cenário diferente, porque na verdade é apenas isso que busco: diferença que me possa atraír, mantendo-me alheado da falta de equilibrio pessoal e do desconhecimento do que isso é, do que isso pode ser para mim. Viajar levado é alimento para o vital adormecimento da consiência do meu ser, pitéu com que tento diariamente empanturrar-me, na esperança de que num dia igual aos outros eu seja atingido de chofre por um equilibrio ideal já pronto-a-vestir.
O sonho americano incita-nos a coser a nossa própria felicidade, mas como saber de antemão qual o fato que nos acentará bem? Afinal o que fazemos não é exprimentar vários até encontar um menos mau, em vez de desenharmos nós mesmos o ideal? E aqueles que exprimentamos não são apenas os que a indústria nos coloca à disposição?
Eu vou exprimentando o que a indústria me vai apresentanto. Espero que ao fim de muita experimentação possa ir aprendendo a orientar as tentativas na direcção dum equilibrio sustentável. Livre-me eu próprio de nunca conseguir adquirir esse que é o mais valioso dos saberes!
Comments:
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Eu acho que estás enganado e noto que também eu estava enganada. Viajas mais por ti próprio do que imaginas. Obrigas-me a ir ao cerne da questão e alertar-te que para viajar, e descobrir novos mundos só precisamos de estar atentos. Seja em Portugal, seja na Suíça, seja no nosso quarto. Quando arriscamos em deixar algo de nós nestes bytes, estamos a abrir uma janela para novas viagens.
Não acredito que sejas assim tão facilmente levado, que és tão cego que apenas vês o que te é levado a ver.. se assim for, fico apenas com pena.
E o bem mais valioso dos saberes é um equilíbrio sustentável? O que é um equilíbrio sustentável? Para mim é o amor.
blackrose
Não acredito que sejas assim tão facilmente levado, que és tão cego que apenas vês o que te é levado a ver.. se assim for, fico apenas com pena.
E o bem mais valioso dos saberes é um equilíbrio sustentável? O que é um equilíbrio sustentável? Para mim é o amor.
blackrose
Quando escrevo que não viajo por mim refiro-me ao facto de não poder decidir por mim mesmo o meu próximo paradeiro em termos de país ou cidade. Dentro destas fronteiras, fico entregue à minha escolha, senhor da minha bisbilhotice. Já quanto ao descobrir novidades fechado dentro do meu quanto, o pragmatismo diz-me que isso é demasiado poético para ser verdade. Pelo menos duma forma frequente.
Isso do amor, não me parece que seja um fim em si mesmo. Será muito mais uma forma (quiçá a mais frequente) de chegar a um equilíbrio emocional próprio. Se esse equilíbrio poder ser sustentável, prolongando-se no tempo, tanto melhor! Mais valioso que qualquer outra coisa é saber como aí chegar.
Isso do amor, não me parece que seja um fim em si mesmo. Será muito mais uma forma (quiçá a mais frequente) de chegar a um equilíbrio emocional próprio. Se esse equilíbrio poder ser sustentável, prolongando-se no tempo, tanto melhor! Mais valioso que qualquer outra coisa é saber como aí chegar.
Ao escrever que achava que viajavas por ti próprio é por sentir que investes em descobrir um pouco mais sobre o sítio para onde és levado, será mesmo assim?
Eu não sei como chegar a um equilíbrio emocional sustentável, sei aquilo que sinto. Sei o que me deixa feliz, sei o que me entristece. Saber como aí chegar? Talvez fazendo aquilo que me dá prazer, com o pouco que tenho :) O que é um equilíbrio sustentável?
Eu não sei como chegar a um equilíbrio emocional sustentável, sei aquilo que sinto. Sei o que me deixa feliz, sei o que me entristece. Saber como aí chegar? Talvez fazendo aquilo que me dá prazer, com o pouco que tenho :) O que é um equilíbrio sustentável?
Ao escrever que achava que viajavas por ti próprio é por sentir que investes em descobrir um pouco mais sobre o sítio para onde és levado, será mesmo assim?
Eu não sei como chegar a um equilíbrio emocional sustentável, sei aquilo que sinto. Sei o que me deixa feliz, sei o que me entristece. Saber como aí chegar? Talvez fazendo aquilo que me dá prazer, com o pouco que tenho :) O que é um equilíbrio sustentável?
--&--@
Eu não sei como chegar a um equilíbrio emocional sustentável, sei aquilo que sinto. Sei o que me deixa feliz, sei o que me entristece. Saber como aí chegar? Talvez fazendo aquilo que me dá prazer, com o pouco que tenho :) O que é um equilíbrio sustentável?
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Claro que tenho vasculhar ao máximo cada local em que estou. É o que eu defino como a "minha bisbilhotice". Afinal de contas, é esse o grande prazer de andar numa vida nómada.
Para chegar ao tal equilibrio, um bom ponto de partida é conhecer aquilo que nos dá alegria e o que nos dá tristeza. No entanto, não seremos iguais toda a vida, e é muito provável que essas fontes de prazer e de tristeza mudem. A estabilidade a longo prazo pode ser atingida sabendo a cada instante que fontes são essas. Para isso é necessária a experimentação e para não estar a experimentar tudo (o que, para além de ineficiente, é fisicamente impossível) é fundamental que se vá aprendendo a antecipar o resultado de bebericar de determinado repuxo. É esse conhecimento que considero como o mais importante na vida.
Mas isto é só uma opinião mal refletida de alguém que não percebe nada do assunto...!
"Sai mais uma fresquinha, ó sô Manel".
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Para chegar ao tal equilibrio, um bom ponto de partida é conhecer aquilo que nos dá alegria e o que nos dá tristeza. No entanto, não seremos iguais toda a vida, e é muito provável que essas fontes de prazer e de tristeza mudem. A estabilidade a longo prazo pode ser atingida sabendo a cada instante que fontes são essas. Para isso é necessária a experimentação e para não estar a experimentar tudo (o que, para além de ineficiente, é fisicamente impossível) é fundamental que se vá aprendendo a antecipar o resultado de bebericar de determinado repuxo. É esse conhecimento que considero como o mais importante na vida.
Mas isto é só uma opinião mal refletida de alguém que não percebe nada do assunto...!
"Sai mais uma fresquinha, ó sô Manel".
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